Definindo Adoração


Vivemos em dias em que a adoração está em alta. Há muitos grupos musicais de adoração nascidos de ministérios de louvor das igrejas locais e comunidades evangélicas. Poderíamos citar o ministério Diante do Trono, o ministério Koinonia e o grupo Toque no Altar. Por conta da facilidade de registro áudio visual conseguida pelas novas tecnologias, com algum dinheiro, certo talento e muito ensaio é possível desenvolver programações de adoração musical no mesmo nível técnico em que os artistas seculares realizam seus eventos.

Muito se tem investido na área da adoração na igreja evangélica brasileira. Sabe-se que o orçamento para compra de instrumentos musicais, aparelhagem de som e recursos eletrônicos é sempre muito alto, isso sem levar em conta que o processo de formação de um músico sempre é bastante dispendioso. É certo que o investimento em música na Igreja não é grande na maioria dos Templos, mas os grupos de que cantamos as músicas em nossas igrejas e que se tornaram os mais influentes do cenário evangélico brasileiro, gastam milhões de reais na sua produção.

Uma pergunta precisa ser feita diante deste fato: será que todo esse investimento, toda essa variedade de estilos musicais, estilos para todos os gostos, toda essa multidão de grupos de adoração, será que toda esta febre de adoração tem agradado verdadeiramente o Deus Supremo que se propõe a adorar?

Um bom exemplo de uma possível inconsistência entre realizar intrincadas programações religiosas e não agradar a Deus é o exemplo dos judeus que viveram no tempo de Jesus. Eles dispensavam a responsabilidade de um filho de amparar seus pais na velhice destes se os filhos alegassem que estavam dando uma oferta ao templo. Jesus reprovou aquela prática, citando o profeta Isaías: “Este povo me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim (Mt 15.8)”.

Outra pergunta, ainda mais instigante, que deve soar como uma nota estridente e alucinante em nossos ouvidos, é “será que minha adoração tem agradado a Deus?”.

É muito fácil apontar este ou aquele colega evangélico e dizer “isso não é adoração, desse jeito parece mais uma banda de forró do que um grupo de louvor”. É muito fácil comentar a respeito de uma música na igreja: “Esta música é muito parada, o culto parece mais um velório, não tinha uma música mais bonita para escolherem!?”.

Difícil é fazer a mesma crítica para si mesmo: “Será que meu coração não tem sido irreverente para com o meu Deus?”. “Será minhas emoções e meus pensamentos não estão no lugar errado enquanto eu adoro?”. “Será que eu não tenho tratado o Senhor de modo imoral e descompromissado?”. “O louvor morreu ou eu nunca desenvolvi a sensibilidade necessária para ouvir a voz de Deus na brisa do vento e não no trovão da tempestade?”.

O tema a ser desenvolvido nesta conferência é “Deus procura verdadeiros adoradores”. Acho muito interessante este tema, porque enfatiza quem é o centro da adoração.

Para iniciarmos o nosso estudo, vamos definir o que é adoração. Usamos freqüentemente a palavra louvor e a palavra adoração referindo-se aos cânticos que entoamos em parte do nosso culto. Não os cânticos não sejam um modo de adoração, mas devemos considerar que a adoração não se limita apenas aos cânticos.

O nosso plano procurará responder às seguintes perguntas:

1. O que é adoração?

2. Como podemos adorar a Deus?

3. Onde nós podemos adorar?

Hoje, procuraremos responder a primeira pergunta: “O que é adoração?”. Para esta pergunta, achamos nas Escrituras duas importantes respostas.



I. Adoração é reconhecer a superioridade do Deus Santo.

a) Na Bíblia, dois verbos do NT demonstram este significado da adoração.

i) Um dos verbos significa, literalmente, “diante como cão”. É usado quando alguém se abaixa diante de alguma autoridade e especialmente diante de Deus como um ato de adoração. Este verbo é uma expressão de reverência e respeito. Ele também é usado quando alguém suplica algo em seu favor.

ii) O outro verbo significa cair, descender ao chão ou de uma posição ereta. É usado como um par perfeito do verbo anterior, fazendo o conjunto “prostrar e adorar”.

b) Vejamos alguns exemplos de adoração no NT, que ilustram como adorar é reconhecer a superioridade de Deus.

i) Os magos vieram do Oriente para adorar o recém nascido Rei dos judeus (Mateus 2.1-2,9-11).

ii) Jesus não adorou Satanás, porque só Deus merece ser adorado (Mateus 4.8-10).

iii) Os seres celestiais que vivem diante de Deus estão em constante adoração (Apocalipse 5.8-10).

c) Adorar é agir de acordo com a realidade. Deus é Deus e diante dele eu sou nada. Não existe adoração enquanto reside em nosso coração o engano de que temos qualquer valor, direito, dignidade ou qualquer crédito diante do Deus santo.

i) A frivolidade, a descontração e a camaradagem com que nos tratamos uns aos outros não é adoração quando nós dirigimos esta mesma atitude para com Deus.

ii) Deus não é obrigado a nos aceitar se de modo desrespeitoso chegarmos para adorá-lo (Lv 10.1-3).

d) Dizem que aquele ato cavalheirismo de jogar a capa para que uma dama passe sem sujar os pés foi inaugurado por um navegante aventureiro do século XVI que queria fazer um galanteio a Elisabete I, que não era casada. Quando ela estava passando pela rua, ele estendeu seu manto no chão e disse à rainha: “Para que minha rainha não suje seus pés na lama das ruas!”.

e) Creio que, como perdemos visão da realeza e da majestade nas pessoas, perdemos também a visão da majestade do nosso Deus.

i) Tratamos o Senhor como tratamos qualquer um e talvez pior do que as autoridades segundo a carne que temos entre nós.

ii) Foi o teólogo John Stott que escreveu no livro “A cruz de Cristo” que “antes de gritarmos um confiante ‘Aleluia!’, é necessário que clamemos humildemente ‘Ai de mim! Estou perdido!’”.

f) É fato que Deus procura verdadeiros adoradores. O que é, porém, verdadeira adoração? Se Deus deseja ser adorado, que adoração seria esta?

i) A adoração é, primeiro, o reconhecimento da superioridade do Deus Santo. É quedar-se diante da sua glória, do seu grande poder e do seu amor infinito. A adoração não tem nada a ver com nossos talentos, nossas emoções nem com o crescimento numérico de nossas igrejas. A adoração não tem a ver com uma música que me seja mais agradável, bonita ou acessível.

ii) A adoração tem a ver com os atributos divinos, com o prazer de Deus e com o crescimento espiritual que estreita o nosso relacionamento com ele. A adoração tem a ver com uma música reverente e alegre que nos transporte a sala do trono do Grande Rei e que nos faça prostrar as almas diante dele.

g) Vimos, portanto, a primeira parte do nosso conceito de adoração. Adoração é reconhecer a superioridade do Deus Santo. A segunda responda a pergunta “o que é adoração?” é que...

II. Adoração é servir a Deus como Senhor

a) Passagens bíblicas

i) A profetisa Ana, viúva por muitos, anos servia a Deus, noite e dia, com jejum e súplica (Lc 2.36-38).

(1) O verbo traduzido pelo verbo adorar da nossa língua significa originalmente servir.

(2) Num sentido geral, seria servir por salário, como qualquer trabalhador.

(3) Num sentido específico, este verbo fala de alguém que presta um serviço religioso, que tem um ministério dentro de um templo, que traz ofertas e dons num culto ou que exerce uma função ordenada, como a do sacerdote.

ii) O culto como serviço é também encontrado nos escritos de Paulo (Rm 12.1).

(1) Uma linguagem de adoração é usada neste versículo.

(2) As Escrituras encorajam os cristãos a apresentarem-se como uma vítima a um sacrifício.

(3) Este sacrifício é realizado por meio das misericórdias de Deus. Só possível adorar o Deus verdadeiro pela sua própria graça e favor.

(4) Os nossos corpos é que são a oferta a ser entregue. Este sacrifício é diferente, porque não envolve a morte literal, mas uma entrega da própria vida para Deus.

(5) Além de vivo, o sacrifício é santo e agradável a Deus. Ele está livre das impurezas do pecado e agrada a Deus, isto é, dá prazer a Ele.

(6) O culto como serviço é caracterizado como racional ou espiritual como pode ser entendido também. O culto é realizado na entrega de nossas vidas a Deus, dos nossos corpos, mas ele é primordialmente espiritual, lógico e não afetado pelas emoções ligadas ao corpo.

iii) João viu os mortos da tribulação adorando Deus em seu estado redimido final. A expressão da adoração daquele grupo de fiéis é o serviço (Apocalipse 7.13-17).

b) Portanto, de modo simples e objetivo podemos dizer que adorar é servir.

i) Servir para nós é muito humilhante. É algo apropriado para quem é pobre, para quem não tem inteligência, para quem não foi esperto, para quem não teve competência para ter um emprego melhor e para quem faz parte de uma raça inferior. Valorizamos pessoas que se vestem bem, que não realizam trabalho braçal e que possuem algum cargo de chefia.

ii) Os valores cristãos são completamente diferentes. O Senhor deixou claro que é um privilégio servir nossos semelhantes, que este deve ser o grande ideal buscado por todos os seus discípulos. Aquele que quisesse ser o maior, deveria ser o menor e servir aos seus irmãos. Jesus não aboliu as funções de liderança nem o respeito que se deve prestar às pessoas que exercem a liderança, mas Jesus aboliu a arrogância de alguém que não deseja servir com humildade os outros por se achar superior aos outros, por causa da função que exerce.

iii) Esse desprezo pelo serviço muitas vezes é transferido para a adoração. O invés de termos servos no templo que estão ali para realizar um trabalho para Deus, temos clientes que estão nos templos para serem servidos.

(1) Temos pessoas que vieram a um restaurante e querem ser bem alimentados, atendidos com rapidez, serem bem tratados, sem se levantar da mesa e precisa realizar qualquer trabalho.

(2) O culto deveria ser uma refeição diferente. Uma refeição familiar em que cada membro da família já realizou a sua parte na tarefa de preparar a refeição. Uns servem aos outros com alegria e se agradam que os outros e não a si mesmo estão sendo bem alimentados.

c) Pensando na adoração como serviço, podemos dizer o seguinte.

i) Adorar não é somente estar dentro do templo bem arrumado, atento a programação, participando dela com cânticos, leituras e anotações.

ii) Quando somos escalados para fazer qualquer serviço na Igreja a fim de tornar o culto possível, nós estamos adorando Deus.

iii) Quando em casa fazemos qualquer tarefa para trazer os membros da família para o culto, nós estamos adorando a Deus.

d) Aliás, nós poderíamos dizer que nossa adoração deve incluir mais do que as disciplinas espirituais como a leitura da palavra e a oração. A nossa adoração deve incluir o meu serviço e meu serviço deve ser realizado para Deus como um ato de adoração.

i) Deste modo, a minha perspectiva do que faço na Igreja pode ir muito mais longe do que o ato imediato de servir.

ii) Provavelmente você tenha ouvido a História do homem que fez uma pergunta parecida a dois trabalhadores da mesma obra.

iii) A diferença entre os dois era que eles tinham uma visão diferente do trabalho que faziam. Um enxergava somente seu trabalho imediato. O outro enxergava além do que ele podia ver diante dos olhos.

iv) Do mesmo modo nós, quando estivermos realizando um serviço na Igreja de Deus, vamos colocá-lo na visão certa. Adorar é servir. Tudo que fazemos na Igreja deve ser um ato de adoração ao nosso Deus.



Deus procura verdadeiros adoradores. A adoração verdadeira precisa ser definida à da verdade revelada nas Escrituras. Adorar é reconhecer a superioridade do Deus Santo e servi-lo como um servo ao seu senhor.

Devemos nos perguntar nesta noite se somos os adoradores que Deus procura naquele perfil de verdadeiros adoradores. Será que somos adoradores que adoram o Senhor com adoração verdadeira? Será que nossa adoração é reverente, sendo o reconhecimento humano da superioridade do Deus Altíssimo? E mais: quando chegamos para adorar, somos clientes ou somos garçons, somos servos ou somos senhores?

Creio que o estilo de adoração mais difundido da atualidade é o estilo de adoração em que o ambiente do culto é totalmente descontraído, informal, de diversão e de uma grande festa em que se celebram os deuses do prazer e da loucura. Além disso, o estilo de culto tem se direcionado para atender às necessidades dos adoradores. Os adoradores é que são servidos naquilo que eles precisam e se sentem abençoados quando são curados, quando tem sua situação familiar resolvida, quando conseguem livrar suas contas do vermelho.

Infelizmente, podemos afirmar que o estilo de culto de muitas Igrejas Evangélicas Brasileiras não tem nada a ver com a adoração bíblica centralizada em Deus e realizada mediante o respeito e o serviço dos adoradores. Esta mensagem, porém, não diz respeito ao outro, mas diz respeito a mim. Será que eu na tenho sido irreverente? Será que tenho agido como o cliente vip da igreja e não quero me envolver no trabalho? Será que eu sou um verdadeiro adorador?

Façamos estas perguntas às nossas almas nesta noite e que Deus derrame sua graça em nós de forma que sejamos transformados à imagem do seu Amado Filho.

Pr. Renato Brito,

Mensagem apresentada na 2ª conferência Adorando com Entendimento da Igreja Batista Bíblica do Planalto em Fortaleza, CE, e na EBD da Igreja Batista Regular de Novo Juazeiro, Juazeiro do Norte-CE.

http://violabrito.blogspot.com/
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