SE DEUS SABE TODAS AS COISAS E SEU PLANO NÃO MUDA, POR QUE ORAR?
Igreja Bíblica Batista do Planalto
Escola Bíblica Dominical
A Oração e a Soberania de Deus
Pr. Jenuan Lira _ 07/09/2008
SE DEUS SABE TODAS AS COISAS E SEU PLANO NÃO MUDA, POR QUE ORAR?
Em tempos como os nossos, onde o homem é cada vez mais exaltado na sua independência e liberdade de ir e vir, é difícil aceitar que “não cabe ao homem determinar o seu caminho, nem ao que caminha o dirigir os seus passos”(Jr. 10:23). De algum modo, até por meios aparentemente bíblicos, estamos buscando formas de sermos senhores do nosso destino, construtores do nosso futuro. Assim, muitos, por ignorância ou por má vontade, apegam-se à oração como o meio de obter de Deus tudo que desejam. É comun alguns afirmarem que “a oração move a mão que move o universo”. Outros comparam a oração com um cheque em branco que Deus nos dá, oferecendo-nos a possibilidade de preenchê-lo como quisermos. Tudo isso revela uma atitude que coloca o homem em posição de independência e liberdade.
Jesus se dirije a tal atitude quando repreende a hipocrisia dos fariseus em Mt. 6:5-8. O Senhor claramente afirma que Deus não ouvirá as orações pelo muito falar dos que oram. Também não dará nada além do que Ele mesmo sabe de que necessitamos. Então, a resposta às nossas orações não depende apenas de pedirmos, mas do saber de Deus acerca da nossa real necessidade. Isso deve ser motivo de alegria, pois, como Jesus ensinou, não há perigo de sermos atendidos quando estivermos pedindo uma cobra pensando que é um peixe (Lc. 11:11).
Orando ao Deus Imutável
Deus não muda. Ele é uma rocha eterna. E isso deve nos alegrar imensamente. O profeta Isaías diz: “Confiai no SENHOR perpetuamente, porque o SENHOR Deus é uma rocha eterna...” (26:4). É por causa da Sua imutabilidade que podemos estar certos de que “suas misericórdias se renovarão a cada manhã” . É por causa da Sua imutabilidade que não somos consumidos em nossos pecados (Lm. 3:22-23; Ml. 3:6).
Independente do que façamos, da intensidade ou “espiritualidade” dos nossos esforços, os planos de Deus jamais serão alterados por nossas súplicas. A razão é que todos os Seus planos foram determinados em bondade e sabedoria infinitas, que são atributos de Deus. Ele faz tudo segundo o conselho da Sua vontade (Ef.1:11; Dn. 4:35), tudo como lhe agrada (Sl. 115:3). E sabemos que Sua vontade é boa, agradável e perfeita (Rm. 12:2). Os homens mudam seus planos porque estão sujeitos a imprevistos. Com Deus não é assim. Ele conhece os fins desde o princípio (Is. 41:4,26; 46:10; 48:16). Pensar em mudança nos planos de Deus seria equivalente a duvidar da Sua bondade ou da Sua sabedoria.
Ao contrário do que alguns pensam, a imutabilidade de Deus não serve para nos desencorajar à oração. Se a mudança em Deus fosse possível, que disposição teríamos de clamar a uma pessoa cujos planos podem ser modificados de um dia para outro? O que garantiria que Ele continuaria me ouvindo e com as mesmas disposições de ânimo? É porque Deus não sofre “variação nem sombra de mudança” (Tg. 1:17) que temos a certeza de que seremos ouvidos. Na realidade, a imutabilidade de Deus é o maior estímulo para as nossas orações.
Se, como alguns pensam e ensinam, o homem pode mudar o plano de Deus pela oração, então o homem é soberano, Deus é o servo. É este o caminho de todas as teologias que diminuem a soberania de Deus e colocam o homem no trono. É assim que entendem os proponentes da chamada Teologia da Prosperidade, tão difundida no meio evangélico, segundo a qual temos o direito de reivindicar, de exigir aquilo que é “direito nosso”, por meio da oração.
Se deixamos de orar porque descobrimos que o plano de Deus não vai mudar, então estamos declarando que o motivo da nossa oração era apenas obter de Deus o que queríamos. Estamos orando de maneira humanista, egoísta, colocando-nos no centro das coisas, almejando que se faça a nossa vontade. Estamos esquecemos que não podemos determinar absolutamente nada, pois nem sequer “sabemos orar como convém” (Rm. 8:26).
Entendendo a Oração
A dilema que surge entre a imutabilidade de Deus e as nossas oração diz respeito apenas a um dos propósitos da oração – a súplica ou intercessão. Mas oração é mais do petição. Existem outros propósitos que devem nos estimular a orar.
1. Adoração
Oração é um excelente meio para adorarmos a Deus. Quando apresentamos nossas necessidades a SENHOR estamos com isso dizendo que reconhecemos nEle poder suficiente para nos atender. Elias orou a Deus para que o céu não chovesse porque cria que Deus está no controle da natureza.
Quando oramos estamos curvando nossa alma diante do Altíssimo reconhecendo, assim, que Ele é bondoso, sábio, gracioso e poderoso. Estamos afirmando nosso desejo de submissão a Sua vontade. Quando nos devotamos à oração, estamos afirmando que confiamos nossa existência às suas mãos, que Ele é o autor e fonte de “toda boa dádiva e de todo dom perfeito”. Oração também é um ato de adoração porque por ela exercitamos nossa fé, e isso é uma forma de honrar a Deus.
2. Confissão
Tiago coloca lado a lado a súplica e a confissão de pecados (5:13-18). João nos ordena a confissão de pecados a Deus (1:9). Temos ainda o exemplo do muitos servos de Deus que, sentindo o peso e as consequências do pecado, faziam confissão ao Senhor (Ne. 1:5-6, 9:2). E como fizeram sua confissão? Qual o meio usado para verbalizar a Deus nosso pecado? Naturalmente é a oração.
3. Ações de Graças
Somos ordenados a em tudo dar graças (I Tes. 5:18). Pela oração apresentamos nossas ações de graças a Deus. Ações de graças mostram bem que a oração tem o propósito de nos humilharmos perante Deus, reconhecendo-o como sábio e bom, em toda e qualquer situação.
Outras Bênçãos Espirituais da Oração
1. Intimidade com Deus
Mesmo sabendo de todas as coisas, Deus tem prazer em ouvir seus filhos compartilhando suas necessidades. Por esse meio estreitamos nosso relacionamento com Ele e sentimos de perto Seu cuidado paterno (Pv. 15:8).
. Pela oração mostramos nossso deleite em Deus, mostramos que valorizamos Sua companhia (Jó 27:10). Além disso, a resposta de Deus às nossas orações aumenta o nosso amor por Ele (Sl. 116:1).
2. Preparação para Ver Deus Agindo
Deus tem Seus planos soberanamente definidos, mas Ele também tem definido os meios pelos quais irá atingir Seus objetivos. E a oração é um deles.
Em muitos casos, Deus determinou que vai agir numa certa parceria com o homem, por meio da oração. Isso não significa que Deus vai fazer o que não é Sua vontade, simplesmente porque oramos.
Como dito acima, a fé pode ser demonstrada em petição. Por isso, Tiago fala da “oração de fé” (5:15). Jesus fez poucos sinais em Nazaré por causa da incredulidade dos seus moradores. Eles não viram muitos milagres porque não tiveram fé para trazer seus enfermos a Cristo (Mc. 6:6). Em muitos casos, um ato de fé era o que Deus esperava para agir efetivamente. Aparentemente, somente Pedro andou sobre as águas, porque só ele pediu isso do Senhor (Mt. 14:22-33).
Mas até nos casos em que Jesus estava agindo diretamente, muitas vezes um milagre era feito ainda antes que a pessoa pudesse ter verdadeira fé em Cristo (Jo.9:7,36).
Podemos assim dizer que, em muitos casos, quando Deus determina agir por meio da oração, Ele também colocará um espírito de súplica nos nossos corações em favor daquilo que é o Seu plano.
3. Preparação para Receber a Vontade de Deus
Jesus nos ensina a orar pela vontade de Deus, antes de suplicar pelo “pão nosso de cada dia”. Oração não é tanto meio para conseguirmos de Deus o que queremos que Ele faça, mas o meio pelo qual demonstramos que estamos tão interessados quanto Ele que se faça Sua vontade. Orar segundo a vontade de Deus é a forma de oração que o Espírito faz por nós (Rm. 8:27).
CONCLUSÃO
Observando a oração de um modo mais amplo, podemos afirmar que oração é mais uma atitude do que um ato. É a forma de nos colocarmos visivelmente debaixo da vontade do Senhor. E, só por isso, deveríamos orar sem cessar. A oração não muda a Deus, mas muda a nós mesmos.
E mesmo que não saibamos definir bem a oração, pois existe um aspecto sobrenatural que não está ao nosso alcance, a ordem do Senhor é que oremos sempre, como fez Jesus e tantos outros nas Escrituras. Pode ser que não teremos nossas orações respondidas positivamente, mas não é apenas por causa de respotas positivas que devemos orar. Oramos confiando que o nosso Deus nem sempre fará o que pedimos, mas sempre fará o melhor para nós, pois “não negará nenhuma coisa boa aos que andam retamente” (Sl. 84:11). Paulo não foi atendido ao pedir repetidamente a remoção do “espinho na carne” que tanto lhe afligia (II Cor. 12:9-10). Mas Deus tinha tinha algo melhor para Ele.
Certamente, nem de longe podemos pretender esgotar toda a profundidade da oração, especialmente na sua relação com a soberania de Deus. No entanto, agarremo-nos às verdades claras das Escrituras, enquanto continuamos pedindo como os discípulos... “Senhor, ensina-nos a orar”.
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