Adoração nas Escrituras


Adoração nas Escrituras

PostDateIconTer, 29 de Setembro de 2009 13:33
(*) Wilson Franklim

            A palavra grega proskuneo traduzida nas versões portuguesas por culto (ou adorar) significa curvar-se ou prostrar-se diante de Deus em reverência.[1][1] Não é sem razão que o ato de santa reverência ao adorado (Deus) é indispensável no culto cristão. Na igreja cristã o culto é (ou pelo menos deveria ser) a adoração pública.

            Meu alvo nestes pequenos estudos é trazer uma reflexão bíblica sobre a adoração. Devido as limitações de espaço não tenho a pretensão de esgotar esse grandioso tema nesta série de artigos. Meu pressuposto básico e incondicional é: o Juiz Supremo neste tema, como em qualquer outro para a igreja cristã, é o Espírito Santo falando nas Escrituras Sagradas.[1][2]  Isso faz com que "a forma aceitável de se adorar o verdadeiro Deus é instituída por ele mesmo"[1][3] em sua Palavra. Não há como fugir desta realidade. Hoje estarei sumariando, ainda que muito resumido, a cosmovisão que o Primeiro e Novo Testamento nos ensinam.  Vejamos:

O Antigo Testamento

            O Primeiro Testamento deixa claro que a adoração ocupava um lugar central na vida do povo de Deus. Observe isto: Para o relato da criação são dedicados apenas 2 (dois) capítulos do Gênesis, enquanto que aproximadamente 40 (quarenta) capítulos das Escrituras são aplicados para descrever, construir, dedicar e normatizar o uso do tabernáculo. Além disso, o tabernáculo era posicionado no centro do acampamento israelita (Nm 1.52-53 e 2.1-2), indicando que o culto a Deus deveria ocupar o centro da vida do povo de Deus.

            O livro de Salmos enfatiza e estabelece que a adoração ao Deus Eterno é uma responsabilidade de todos os povos. “Adorai ao Senhor vestidos de trajes santos; tremei diante dele, todos os moradores da terra” (Sl 96.9); ver ainda (22.27; 29.2; 66.4; 86.9; 95.6).

            Por outro lado, o Antigo Testamento também demonstra que a adoração corrompida está entre as causas principais da manifestação do julgamento divino. “Os filhos de Israel tinham pecado contra o Senhor... e andado segundo os costumes das nações que o Senhor lançara fora...” (2 Rs 17.7-20). Ver ainda  (2 Cr 26.16-20; Is 1.11-17). Portanto, pode-se afirmar que a "tipologia do Antigo Testamento dá a adoração um lugar proeminente"[1][4] e que é Deus quem estabelece a maneira pela qual se deve adorá-lo.

 

O Novo Testamento,

            O Evangelho começa com a resposta espetacular de Maria a Deus “ A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito exulta em Deus meu Salvador...” (Lc 1.46-56).   Maria responde a Deus com a mais profunda adoração. Da mesma forma Zacarias (Lc 1.68-79), os pastores e a milícia celestial (Lc 2.8-16), os magos (Mt 2.11) e Simeão (Lc 2.28-35). Todos responderam a Deus na mais profunda adoração.

            Ao ser tentado pelo Diabo, Jesus cita as Escrituras: "Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele darás culto" (Lc 4.8). Mas Jesus fez algo mais, e que deveria nos chamar a atenção. Observe o zelo de Jesus pelo local dedicado ao culto público “e achou Jesus no templo os que vendiam bois, ovelhas, pombas, e também os cambistas ali sentados, e tendo feito um azorrague de cordas, lançou todos fora do templo, bem como as ovelhas e os bois, e espalhou o dinheiro dos cambistas, e virou-lhes as mesas...”(Jo 2.13-17). Jesus expulsou do templo aqueles que, atendendo aos seus próprios interesses, profanavam a adoração através do comércio na casa de Deus.

            Para a Igreja Primitiva a adoração era uma atividade tão importante que eles a exerciam diariamente (At 2.42-47). Para os primeiros cristãos, como disse Mark Earey, "a adoração não era um tempo separado na vida diária; ela era a própria vida diária."[1][5] 

            Quanto a forma de cultuar publicamente, o apóstolo Paulo deixou claro que a decência e a ordem (I Co 14.40) são indispensáveis na adoração pública, bem como o elemento de entendimento (I Co 14.15). Aliás, Jesus já havia ordenado a observância do entendimento na adoração. Note que ao reler o primeiro e maior mandamento Jesus afirma: “Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento (Mt 22.37). Deus não deseja adoradores irracionais, que não saibam o que estão fazendo; que “desmaiam” no meio “culto”; que queimam o precioso tempo da adoração com anúncios desnecessários, com propaganda de coisas que não dizem respeito a adoração; ou que simplesmente estão imitando a maioria em atos de entretenimento, que não sabem distinguir a diferença entre adorar e assistir um espetáculo.

            De uma forma resumida poderíamos afirmar que o NT estabelece cinco princípios para adoração. Jesus estabeleceu três: o conhecimento de Deus, o entendimento do culto, adoração em espírito e em verdade; Paulo movido pelo Espírito Santo concluiu com mais dois: decência e ordem.

 

Conclusão

            Estes dados da Bíblia nos trazem a uma série de conclusões com respeito à adoração. Em primeiro lugar, Deus deseja adoração e ele busca seus adoradores que o adoram com entendimento (Mt 22.37), e em espírito em verdade (Jo 4.23). Em segundo, é no contexto de adoração que o Eterno se revela como um Deus zeloso que tem ciúmes (Ex 20.4-5), logo, somente o Deus Eterno deve ser adorado em nossos cultos. Em terceiro, como resultado das duas anteriores, a adoração deve ser prioridade na vida cristã.  Portanto nenhuma ofensa a Deus se compara com o ato de negar sua singularidade e transferir a outro o reconhecimento e a adoração que é devido somente a ele.[1][6]

            Outro aspecto mencionado na Bíblia é o de que nem toda adoração agrada a Deus. Há sempre o perigo de introduzirmos no culto um "fogo estranho" diante do Senhor (Lv 10.1-2), por isso devemos estar sempre em alerta.

            Finalmente fica claro através da Palavra de Deus que cinco elementos jamais poderão faltar em nossos cultos: a Espiritualidade através do conhecimento de Deus, a Verdade, o Entendimento, a Decência, e a Ordem.  “Porque Deus não é Deus de confusão e sim de paz” (I Co 14.33). Deus nos abençoe. Amem.

 

(*) O Autor é Pastor da Igreja Batista em Vila Jaguaribe

[1][1] Charles Hodge. Teologia Sistemática. São Paulo, Hagnos, 2001. p.1232.
[1][2] D. S. Whitney, Spiritual Disciplines for the Christian Life (Colorado Springs: Navpress, 1991), 79-91. Mostra que o termo "adoração" pode ser usado em um triplo sentido: 1) público, 2) familiar e 3) individual.
[1][3] Confissão de Fé de Westminster, XXI.i.
[1][4] A. P. N. D. Gibbs, Worship (Kansas City: Walterick, s. d.), p.69.
[1][5] Mark Earey, "Worship – What Do We Think We Are Doing," em Evangel 16 (Primavera 1998), p.11.
[1][6] Everett F. Harrison, "Worship," em Baker’s Dictionary of Theology (Grand Rapids: Baker, 1960), p.561.
Última atualização ( Seg, 12 de Outubro de 2009 09:40 )
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